O Rubicão é um pequeno rio que marcava a fronteira entre a Gália Cisalpina e a Itália. O Direito Romano estabelecia que ele era o limite até onde os generais poderiam chegar com suas tropas; dali até Roma, eles não poderiam seguir no comando de suas legiões – era uma forma de proteger o Senado e a República de um golpe.
Então, no ano 49 a.C., o grande general Júlio César, orgulhoso de ter conquistado a Gália, estava à beira do Rubicão. Ele sabia que atravessá-lo seria uma declaração de guerra e que o Senado romano o trataria como inimigo público.
Ali parado, com um pequeno grupo, César hesitava em fazer a travessia. Ele estava “muito perturbado com a grandeza e a audácia de seu empreendimento” – relatou o historiador Plutarco. Nessa hesitação, disse-lhe o amigo Asínio Polião: “Ainda há tempo de voltar atrás”. Em seguida, um homem alto apareceu, sentou-se a pouca distância do grupo e começou a tocar sua flauta – afirmou Suetônio, outro famoso historiador romano.
Os soldados se aproximaram dele. Então o homem tomou a trombeta de um dos soldados e, tocando forte, atravessou a ponte sobre o rio. Vendo isso, César decidiu: “Vamos para onde nos chamam a voz dos deuses e a injustiça de nossos inimigos” – anotou Suetônio. Esse gesto foi como “um abandono dos conselhos da razão” – completou Plutarco.
Ao cruzar o Rubicão com seu exército, César pronunciou a frase que entrou para a História: “Alea jacta est” (“a sorte está lançada”). O general Pompeu, que ameaçara detê-lo com a sua legião, bateu-se em retirada.
Júlio César, ao centralizar o poder e assumir o cargo de ditador perpétuo, fez com que muitos senadores conspirassem para matá-lo, contando com a participação de Brutus. Assim, ao chegar ao Senado, ele foi assassinado com vários golpes de punhal. Enquanto Brutus exclamava “Assim perece o tirano”, César pronunciava as suas últimas palavras: “Tu quoque, Brute, fili mi!” (“Até tu, Brutus, filho meu!”).
O tempo passa, e os tiranos sempre renascem. O mais recente é Donald Trump. Absolutista, desconhece a soberania dos povos e os limites republicanos. O seu Rubicão é o Caribe, onde se concentra uma operação de guerra que envolve quase 12 tipos de navios, incluindo o navio Gerald R. Ford, e 12 mil marinheiros.
Para combater o narcotráfico, haveria necessidade de tudo isso?! Vamos por partes.
Essa operação já atacou várias embarcações e matou mais de 80 pessoas, sem nenhuma prova de que estariam transportando drogas. Tais execuções sumárias extrajudiciais são crimes internacionais graves que poderão desencadear ações no TPI – Tribunal Penal Internacional.
Tudo isso ocorre com o silêncio conivente do Congresso e da Justiça norte-americana. Onde está a tão decantada democracia?! E os direitos humanos, onde estão?
A alegação de combate ao narcotráfico é uma falácia, por duas razões: os principais países sul-americanos produtores de cocaína são a Colômbia, o Peru e a Bolívia, e não a Venezuela. O mar da costa venezuelana é apenas um eixo por onde passam as drogas desses países. Portanto, atacar o território venezuelano é absolutamente incompreensível.
Ademais, a droga que mais mata nos EUA não é a cocaína, mas o fentanil, um poderoso anestésico, que tem sido usado ilegalmente. Produzido na China, é importado pelos cartéis de drogas mexicanos que o processam em laboratórios clandestinos, transformando-o em droga sintética; do México, é traficado para os Estados Unidos.
Portanto, descarta-se o combate ao narcotráfico.
O ditador norte-americano está criando uma cortina de fumaça para ocultar seu principal objetivo: derrubar Nicolás Maduro e se beneficiar da maior reserva de petróleo do mundo, calculada em mais de 300 bilhões de barris, e de terras raras ainda inexploradas.
A possível invasão da Venezuela estará baseada em mentira, como mentiroso foi o motivo para a invasão do Iraque em 2003.
Aí está o tirano que prometeu acabar com todas as guerras do mundo.