Inaugurado nesta quinta-feira (4/12), o Memorial São Francisco de Assis é resultado de uma parceria entre as fundações Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e João Pinheiro (FJP) para resgatar a história de cerca de 1.500 pessoas isoladas pela lei sanitária vigente na década de 40 por serem diagnosticadas com hanseníase e que construíram uma comunidade.
O Memorial está localizado em Bambuí, na Casa de Saúde São Francisco de Assis (CSSFA), unidade referência da Fhemig em cuidados prolongados para os 53 municípios da macrorregião Centro-Oeste. A unidade foi criada em 1943, com o nome de Sanatório São Francisco de Assis e, em 2007, foi revocacionada no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A solenidade contou com a presença da comunidade, dos servidores do hospital, a presidente da Fhemig, Renata Dias, a presidente da Fundação João Pinheiro (FJP), Luciana Lopes, além de autoridades locais.
Para Renata Dias, a entrega do memorial reafirma o compromisso do Estado com a reparação histórica e o cuidado com quem viveu os impactos do isolamento compulsório.
“Este momento nos faz olhar para o futuro, motivando-nos a fazer mais e melhor por esta comunidade. Tantas histórias começaram aqui e precisamos fazer com que essas pessoas se tornem verdadeiras donas de suas casas, com a regularização fundiária em andamento”, afirmou a presidente da Fhemig.
Já Luciana Lopes destacou o papel da memória na construção de políticas públicas mais humanas e conscientes.
“Fui moradora de Bambuí e nunca havia visitado a Casa de Saúde. Um projeto como esse traz a consciência, para nós enquanto agentes públicos, de como é importante garantir que não se repitam as segregações. Quando soube do projeto, incentivei muito nossos alunos, especialmente o Gustavo, que muito também nos ensinou”, disse a presidente da FJP.
Essa reflexão sobre memória, cuidado e responsabilidade histórica é compartilhada pela diretora da CSSFA, Vanessa Cristina Leite da Silveira.
“Mais do que relatar fatos, o Memorial nos convida à reflexão sobre duas realidades que marcaram nossa história: a hostilidade da exclusão e a hospitalidade que floresceu em uma comunidade que se reinventou. Somos guardiões de um passado difícil, mas também promovemos a transformação social”, analisa a diretora.
Projeto
A iniciativa do memorial veio de um projeto de extensão da Fundação João Pinheiro que envolveu moradores da comunidade, o Centro Social, os servidores da Fhemig e da própria FJP. O acervo, que será aberto à visitação pública, reúne 137 objetos, como fotografias, documentos, objetos e instrumentos históricos que retratam a antiga vida no então sanatório.
O acadêmico responsável pelo projeto de pesquisa, Gustavo Bosco de Oliveira, é neto de ex-moradores da comunidade, onde também já morou, motivo principal da escolha pelo tema de seu trabalho: “Mais do que mostrar um passado de violações, o Memorial São Francisco de Assis oferece um lugar para se escutar e reconhecer a dignidade de quem viveu e resistiu lá”, destaca.
Outro idealizador foi o arquiteto Sidney Cid Garcia Oliveira, servidor da Fhemig desde 1982 e que atua hoje em dia na Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças.
A exposição permanente foi estruturada em duas grandes seções. A primeira é dedicada à história da hanseníase e das políticas públicas ligadas ao isolamento compulsório. A segunda é voltada aos aspectos da vida comunitária, apresentando como as relações humanas se davam em meio ao isolamento.