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Simpósio no Hospital João XXIII reúne profissionais para discutir jornada do paciente cirúrgico

Com mais de 13 mil cirurgias realizadas por ano, unidade da Fhemig é referência em Minas e uma das maiores do país

11/09/2024 às 15h50
Por: Samuel Fonte: Secom Minas Gerais
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Rafael Assis
Rafael Assis

“O trauma é uma doença cirúrgica, portanto, o Hospital João XXIII (HJXXIII) é, necessariamente, um hospital cirúrgico”. A frase dita pelo cirurgião geral e diretor assistencial do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência (CHU) da Fhemig , Victor Ikeda, na abertura do 2º Simpósio de Assistência Cirúrgica do CHU, revela o papel central desse tipo de assistência. O evento reuniu, entre segunda e esta terça-feira (11/9), quase duas centenas de profissionais da saúde para discutir e trocar experiências no auditório do HJXXIII.

Centro de Tratamento de Queimados / Crédito: Rafael Assis
Centro de Tratamento de Queimados / Crédito: Rafael Assis

A cada ano, apenas no HJXXIII - que junto com os hospitais Maria Amélia Lins e Infantil João Paulo II constituem o Complexo - aproximadamente 6.600 pessoas são operadas, em uma média de 550 pacientes cirúrgicos mensais.

Como destaca a enfermeira e gerente de Assistência Cirúrgica do CHU, Patrícia Alves Moreira, a assistência cirúrgica é fundamental para o tratamento de traumas, doenças agudas e outras condições que requerem uma intervenção imediata. “A rapidez e a eficácia da resposta são fundamentais para salvar vidas e minimizar sequelas de doenças”, acrescenta.

“Sabemos que os hospitais do estado nos têm como referência, pois somos o maior hospital de Minas para trauma e para tudo o que isso abrange. Nacionalmente também somos muito conhecidos e temos reconhecimento internacional em algumas áreas como neurocirurgia e cirurgia geral, por exemplo”, completa Victor Ikeda.

Seres humanos

Por trás desses números estão seres humanos que, de forma inesperada, em razão de acidentes, agressões e outros tipos de ocorrências, tiveram sua rotina interrompida e se viram obrigados a enfrentar uma nova realidade seja no curto, médio ou longo prazos.

Esses homens, mulheres e crianças motivam uma diversidade de procedimentos e põem em ação um número igualmente grande de profissionais que atuam no CHU e que os acompanham ao longo do seu percurso de tratamento desde a entrada nesses hospitais até a sua alta. Daí o termo “jornada do paciente cirúrgico”.

A gerência de Assistência Cirúrgica é a maior do HJXXIII, conta com 12 setores e 700 profissionais. “É muita gente trabalhando para essa jornada. Tudo é feito para que haja a alta adequada do paciente”, resume Patrícia Moreira.

Inversão de papéis

Acostumada a cuidar dos casos graves que chegam ao bloco cirúrgico do HJXXIII, Priscilla Aurélia, 46 anos, não imaginava que o dia 28 de fevereiro de 2021 iria determinar uma inversão de papéis em sua vida.

Após sofrer um grave acidente de carro na estrada que leva à cidade de Timóteo, ao retornar de uma viagem a Mucuri, no Sul da Bahia, com o marido e a filha adolescente, a técnica de enfermagem voltou ao seu local de trabalho na condição de paciente. Ela veio de Timóteo, transportada por helicóptero, após receber o primeiro atendimento em um hospital da cidade. Devido aos ferimentos, teve que amputar o braço direito. Os familiares que a acompanhavam não sofreram nenhum arranhão.

Priscilla permaneceu internada por 15 dias e retornou às suas atividades profissionais cerca de dois meses após o acidente. “Quando somos acolhidos por pessoas que gostam do que fazem, isso já ajuda em nossa recuperação”, ressalta.

A troca de papéis permitiu que ela percebesse com mais clareza a forma como os pacientes do HJXXIII são atendidos. “Eu senti como se os profissionais se colocassem na condição de paciente, num gesto de verdadeira empatia”, completa.

Contexto amplo

A complexidade dos casos caminha junto com a complexidade das ações e dos serviços que se dedicam a recuperar a qualidade de vida dos pacientes atendidos, por meio de um trabalho conjunto realizado por equipes multidisciplinares.

Médica paliativista e coordenadora da equipe de Cuidados Paliativos do HJXXIII, Gabriela Casanova Martins explica que foi importante e simbólico o cuidado paliativo abrir um simpósio de cirurgia, porque existe um estigma de que os pacientes cirúrgicos não são indicados para esse tipo de atenção. De acordo com ela, o cuidado paliativo costuma estar associado, erroneamente, a casos para os quais não há nada mais a ser feito.

“Na realidade, os paliativistas salvam vidas no contexto mais amplo do que é a vida de uma pessoa, para além de um coração batendo. O cuidado paliativo permite que tenham uma trajetória menos sofrida em sua jornada e sejam o máximo que possam ser com as transformações e as ressignificações trazidas pela doença”, sintetiza Gabriela Casanova.

Tudo ou nada

Ainda segundo a especialista, o paciente cirúrgico que vai para o cuidado paliativo se encontra em um estágio de atenção que não é o “tudo ou nada”. Ele está em um processo contínuo que irá evoluir para a cura, quando ela é possível.

“O paciente grande queimado – atendido no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do HJXXIII – é muito desafiador. O tempo determina uma evolução que os próprios profissionais da saúde não conseguem prever. O seu prognóstico vai mudando com o transcorrer desse tempo”, completa a médica.

Onda Vermelha

Desafio também é o contexto de atuação dos profissionais que estão na linha de frente da “Onda Vermelha”, como é conhecido o trajeto que vai da Sala de Reanimação do setor de Politraumatizados ao Bloco Cirúrgico do HJXXIII, cujo protocolo completou 20 anos em 2024.

Ele foi desenvolvido a partir da experiência desses profissionais ao longo dos anos e como forma de reduzir a alta mortalidade dos pacientes vítimas de traumas muito graves. A taxa de sobrevida dos casos de “Onda Vermelha” atendidos no HJXXIII é superior à dos melhores hospitais de trauma do mundo.

Na lista de causas de entrada fica em primeiro lugar os politraumatismos devido a colisões automotivas, que respondem por 26,7% dos casos, seguidos pelos ferimentos por arma de fogo (25,3%), por arma branca (20%) e atropelamentos (14,7%).

Esses dados são resultado de uma pesquisa realizada pela enfermeira e ex-residente de Urgência e Emergência do HJXXIII, Larissa Geovanna Fernandes Nascimento, que em parceria com outras pesquisadoras, aborda casos de pacientes encaminhados ao bloco cirúrgico em “Onda Vermelha”.

Segunda chance

“O comparativo dos dados permitiu a identificação do perfil dos pacientes que sobrevivem após o politrauma, o tempo de internação, a intervenção cirúrgica e as principais complicações encontradas após o atendimento. Com os dados, é possível compreender melhor os mecanismos de trauma com maior letalidade, as prováveis complicações e criar planos de ação para diminuir essas complicações e o óbito nesse perfil de paciente”, ressalta Larissa Nascimento.

Guilherme Frauche / Crédito: Arquivo Pessoal
Guilherme Frauche / Crédito: Arquivo Pessoal

Ao longo dos 12 anos que marcam a sua entrada no HJXXIII por meio da “Onda Vermelha”, o engenheiro civil Guilherme Frauche, 34 anos, solteiro, retornou ao hospital algumas vezes para reencontrar profissionais que o atenderam. Agora, o retorno é motivado por sua participação em uma roda de conversa com outros ex-pacientes no contexto do Simpósio.

Guilherme se recorda do dia, em agosto de 2012, quando foi baleado no coração e pulmão direito, após uma tentativa de assalto quando chegava em casa após a faculdade. Ele deu entrada no hospital em estado de quase morte. Em menos de um minuto, o então estudante de 22 anos se encontrava no bloco cirúrgico para uma cirurgia de emergência. No dia seguinte, já dava sinais de que iria se recuperar, o que de fato aconteceu menos de um mês depois.

“Eu devo muito ao João XXIII, principalmente à Onda Vermelha, que é uma coisa de primeiro mundo. Se eu estou aqui hoje é 100% por causa da Onda Vermelha do João XXIII. Eu tive uma cirurgia muito longa, foram sete paradas cardíacas ao longo do procedimento e fiquei em coma por um tempo curto. Eu só tenho a agradecer. A minha recuperação foi muito rápida, eu era um atleta muito novo e isso também me ajudou. Agradeço muito aos médicos, enfermeiros, anestesistas, psicólogos e fisioterapeutas que me acompanharam em minha recuperação plena. Sete meses depois, participei de uma meia maratona”, finaliza o engenheiro.

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