
Na cidade de Lagoa Santa (MG), há mais de cinco anos, vive um jacaré-do-papo-amarelo na lagoa central, onde costuma tomar sol na margem e até mesmo atravessar a avenida tranquilamente. Algumas pessoas acreditam que há mais de um jacaré, porém, como nunca foram vistos simultaneamente, permanece a dúvida. Nunca se ouviu falar de nenhum ataque por parte do amigável animal, apelidado carinhosamente de Alfredo pelos moradores.
Ao contrário, é comum vê-lo próximo às pessoas que fazem caminhadas, piqueniques, esportes e passeios diariamente na orla da lagoa. Assim, nessa convivência pacífica, Alfredo se tornou o mascote da cidade, estampando artesanatos locais e sendo muito estimado pela população.
Contudo, na semana passada, um ser humano atacou Alfredo, lançando dois arpões de caça que ficaram cravados em seu corpo.
A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) proíbe a caça, captura, perseguição ou uso de animais silvestres sem autorização da autoridade competente. A pena é de detenção de seis meses a um ano, além de multa.
A lei prevê ainda que a punição é aumentada em 50% se o crime for cometido contra espécies raras ou ameaçadas, em períodos proibidos, durante a noite, em unidades de conservação ou utilizando métodos capazes de provocar destruição em massa. Em caso de caça profissional, a pena pode ser triplicada.
Vale lembrar que, apesar da proibição, existe uma exceção para o abate de javalis e javaporcos — espécies exóticas consideradas invasoras — desde que autorizado pelo IBAMA. No entanto, a tentativa de caça ao jacaré Alfredo foi, além de cruel, absolutamente ilegal.
Tomados de compaixão pela dor do animal, que apareceu com os arpões fincados no corpo, centenas de pessoas solicitaram ajuda à Secretaria de Meio Ambiente de Lagoa Santa. Numa força-tarefa inédita, polícia ambiental, bombeiros e veterinários uniram esforços para salvar Alfredo.
Após três dias de paciência e técnica, o jacaré finalmente foi capturado. Os arpões foram retirados por meio de uma microcirurgia, e o sangramento considerável foi estancado com suturas antes de soltá-lo novamente na lagoa.
Em entrevista, os veterinários Professor Aldair (membro do GRA-BH, Grupo de Resgate Animal de Belo Horizonte) e Ricardo Salomão esclareceram os desafios da operação.
O Professor Aldair destacou que Alfredo, acostumado à convivência humana, pode ser considerado manso, embora seja necessário cuidado dentro da água. Segundo ele, a ausência de câmeras na lagoa dificultou a investigação, sendo urgente a criação de políticas públicas de educação ambiental.
Já Ricardo Salomão, referência em resgates, relatou que Alfredo demonstrou comportamento territorialista, mas não apresentou agressividade durante o salvamento, mesmo em situação de dor e estresse. Ele ressaltou que jacarés frequentemente escondem a dor e sobrevivem a ferimentos em disputas de território.
Ambos reforçaram que a caça ainda faz milhões de vítimas por ano no Brasil e defenderam maior investimento em prevenção e conscientização.
O GRA-BH, que atuou no resgate, pode ser acionado através dos perfis @resgateanimal.grabh e @patologiadoprofaldair no Instagram. O grupo é voluntário e depende de doações para manter suas atividades.
A tentativa de caça a Alfredo precisa se tornar um marco contra crimes ambientais. O jacaré deu uma lição de resiliência ao se deixar socorrer, mas milhares de animais ainda morrem vítimas da crueldade humana.
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