
O mês de outubro começou com expectativa para os profissionais do Zoológico de Belo Horizonte quando dois novos leões-brancos chegaram do Beto Carrero World. Mafu e Pretória, ambos com 14 anos de idade, vieram do parque de Santa Catarina devido ao encerramento das atividades com animais no local.
Conforme já mencionamos em matéria anterior, após 32 anos de entretenimento animal, o conselho administrativo do Beto Carrero World entendeu que a época de utilização de animais em entretenimento já passou e que hoje há uma consciência sobre a necessidade de estarem o mais próximo possível do seu habitat natural.
Assim, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, os animais, que fariam parte de um programa internacional de conservação da subespécie Panthera leo krugeri, não possuíam condições de retorno à natureza por terem nascido sob cuidados humanos. A expectativa era que, em um ambiente controlado, eles pudessem contribuir futuramente para projetos de reintrodução, caso houvesse reprodução bem-sucedida.
No entanto, ativistas e especialistas nos direitos animais já alertavam que o termo “conservação” muitas vezes é utilizado para legitimar o confinamento de animais silvestres, mascarando práticas que ainda visam o entretenimento humano. A chegada dos leões, apesar da euforia, também gerou questionamentos sobre o real benefício dessas condições para o bem-estar dos animais.
Nos primeiros dias, Mafu e Pretória permaneceram em uma área restrita, sob observação da equipe técnica. Entretanto, no dia 11 de novembro, a leoa-branca Pretória sofreu uma parada cardiorrespiratória durante um procedimento anestésico e não resistiu.
Segundo a PBH, o procedimento seria para o tratamento de uma fratura nos dentes caninos inferiores, que já apresentava sinais de necrose — lesão ocorrida ainda no parque de origem. Durante a indução anestésica, Pretória apresentou um quadro súbito de parada cardiorrespiratória. Apesar das tentativas de ressuscitação, o felino veio a óbito. A prefeitura informou que o processo foi conduzido por veterinários experientes e que uma necrópsia está sendo realizada pela Escola de Veterinária da UFMG para determinar a causa da morte.
A perda de Pretória reacendeu debates sobre o impacto do cativeiro e o estresse a que animais selvagens são submetidos em atividades para entretenimento humano. Uma leoa que havia passado anos servindo como atração em um parque temático, ao ser transferida em nome da conservação, acabou perdendo sua vida e sua oportunidade de desfrutar de liberdade.
Lamentavelmente, 24 horas depois da morte da leoa, o zoológico registrou a morte da chimpanzé Kelly, de 27 anos. Assim como Pretória, ela também não resistiu à anestesia necessária para a realização de exames.
Segundo o prefeito Álvaro Damião, a chimpanzé havia chegado a Belo Horizonte no mesmo mês de outubro e apresentava um problema uterino que já vinha sendo tratado. O prefeito afirmou que “Ela precisava passar por exames fora do zoológico, e para isso era preciso anestesiá-la. Infelizmente, Kelly não suportou o procedimento e faleceu”. Ele prometeu investigar os dois casos, ressaltando que, apenas em 2025, 35 animais morreram no Zoológico de BH, número que, embora dentro da média dos últimos anos, preocupa pela sequência de ocorrências recentes.
A morte de dois animais de grande porte em menos de 48 horas gerou grande repercussão pública. Entidades de proteção animal e parlamentares ligados à causa cobraram transparência e revisão dos protocolos de manejo e anestesia utilizados no local. A prefeitura anunciou que pretende convocar especialistas independentes para avaliar as práticas e propor melhorias.
Sabemos que os casos de Pretória e Kelly não são tragédias isoladas, pois revelam a crueldade que é a exploração de animais para fins de entretenimento. Embora muitas instituições se apresentem como centros de educação e conservação, a realidade é que a maioria dos animais permanece em estado de tristeza e solidão, em espaços reduzidos, privados de estímulos naturais e condenados a uma vida de tédio e estresse.
A leoa-branca, antes exibida como símbolo de beleza e raridade no Beto Carrero World, e a chimpanzé, uma das espécies mais inteligentes do reino animal, tiveram suas vidas encerradas pela subjugação e pela ausência de escolha. Ambas morreram sob o domínio humano depois de uma vida de exploração.
Organizações defensoras dos direitos animais reforçam que a verdadeira conservação ocorre na natureza, e não em jaulas ou vitrines. Santuários, reservas ecológicas e projetos de reintrodução são alternativas éticas e eficazes, desde que respeitem o espaço e as necessidades biológicas dos animais.
As mortes no zoológico devem servir de alerta e reflexão. A curiosidade humana sobre a vida dos animais silvestres não pode justificar o sofrimento emocional que se esconde atrás das grades. Até quando observar animais enjaulados será uma atividade satisfatória para o ser humano?
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