19°C 26°C
Pedro Leopoldo, MG
Publicidade

As dificuldades enfrentadas pelos protetores de animais. Parte 2

Um gesto de cuidado que vai além do amor: enquanto muitos resgatam, poucos ajudam. Os protetores de animais enfrentam desafios diários para salvar vidas.

17/11/2025 às 14h06
Por: Heitor Silva Fonte: OBSERVADOR
Compartilhe:
Imagem Ilustrativa
Imagem Ilustrativa

Dando continuidade à matéria da semana passada, esta coluna entrevistou mais uma protetora de animais de Pedro Leopoldo, buscando entender a situação atual, que tem se tornado insustentável, não só na nossa cidade, mas no país inteiro.

Como sempre ressaltamos, apesar de existirem leis que asseguram o bem-estar de cães e gatos, na prática, o cuidado com animais em situação de rua e vítimas de maus-tratos acaba recaindo principalmente sobre voluntários.

Segundo nos relata a protetora Márcia Matoso, é preciso lembrar que em Pedro Leopoldo existe a Lei Municipal nº 3.556/2019, que estabelece diretrizes para a política de proteção aos animais. Essa legislação prevê, entre outros pontos, ações de conscientização da população, programas de castração e um registro municipal para mapeamento da população de cães e gatos.

No entanto, essas determinações não são plenamente colocadas em prática, havendo muito a ser feito ainda.

A protetora relembra que, neste ano, foram realizados cinco mutirões de castração, o que é considerado um avanço, mas ainda insuficiente diante do grande número de animais abandonados na cidade.

A entrevistada destaca que um dos artigos da lei prevê a promoção de informação e conscientização pública sobre guarda responsável, abandono e maus-tratos. No entanto, campanhas educativas por parte da administração municipal são raras ou inexistentes.

Sem informação, explica a protetora, a população continua a abandonar animais e a permitir a reprodução descontrolada. Segundo Márcia, esse é um dos fatores que mantém o problema sempre se repetindo, como um ciclo que jamais se encerra.

Outro ponto importante da lei determina que o município deve manter um registro atualizado da população de animais. Contudo, na prática, o que ocorre em nossa cidade é o registro apenas daqueles microchipados nos mutirões de castração. Isso cria um retrato parcial que não corresponde à realidade, pois, sem dados reais, não há como planejar políticas públicas eficazes, avaliar resultados e reduzir progressivamente o número de animais em situação de rua.

Além da ausência de ações estruturadas do poder público, há um aspecto que pesa diretamente sobre os protetores, que é a utilização do próprio recurso financeiro. Márcia relata que já investiu grandes quantias de seu próprio dinheiro em consultas, cirurgias, internações, medicamentos e alimentação para animais resgatados.

Apesar de os protetores contarem com descontos em algumas clínicas veterinárias que reconhecem o árduo trabalho voluntário realizado, os custos continuam elevados. Nos casos mais graves, é necessário que o animal receba cuidados pós-operatórios, o que implica em abrigá-lo em casa temporariamente ou pagar espaços específicos, o que também exige recursos.

Fato é que esse esforço constante gera sobrecarga financeira e emocional. Protetores lidam diariamente com urgências, sofrimento animal, falta de apoio e, muitas vezes, descaso da população e das autoridades. O sentimento de solidão diante de um problema coletivo acaba se tornando uma realidade dura, apesar da dedicação e do amor pelos animais.

É importante lembrar que a proteção animal não é uma escolha ou um favor. A Constituição Federal determina que é dever do Estado proteger a fauna e impedir práticas cruéis. Portanto, políticas de castração, fiscalização e educação não devem depender exclusivamente da boa vontade de pessoas físicas. São obrigações públicas que, quando negligenciadas, geram impactos que ultrapassam o campo afetivo, pois aumentam riscos sanitários, geram problemas ambientais, causam acidentes de trânsito e contribuem para a perpetuação da violência.

Por fim, a protetora aponta algumas medidas que poderiam melhorar esse cenário no município, tais como apoio efetivo no atendimento veterinário de animais sem tutores; realização de mutirões de castração mensais; criação de casas de passagem e recuperação pós-cirúrgica; auxílio na captura de animais que necessitam de tratamento; fornecimento de ração de acordo com o número de animais sob cuidado dos protetores; e mais agilidade e rigor na apuração de denúncias de maus-tratos.

Essas ações não são apenas possíveis, como já estão previstas em lei e trazem resultados positivos a médio e longo prazo. Quando o poder público assume sua responsabilidade, a realidade dos animais melhora e também diminui a sobrecarga sobre os protetores.

Enquanto isso não acontece, protetores como Márcia continuam ocupando o espaço deixado pelo Estado, cuidando de quem não tem condições de se organizar para suplicar por socorro ao Poder Público. Sabemos que os animais sabem se comunicar com o olhar, com gemidos e gestos e estão nas ruas implorando por ajuda, mas, atualmente, apenas os protetores fazem isso por compaixão.

Mas é preciso reconhecer que o amor, apesar de indispensável, não deve ser o único recurso disponível. A causa animal é coletiva, e sua solução depende do compromisso efetivo do Poder Público somado à conscientização da sociedade.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Pedro Leopoldo, MG
23°
Tempo nublado

Mín. 19° Máx. 26°

23° Sensação
3.09km/h Vento
78% Umidade
100% (28.03mm) Chance de chuva
05h09 Nascer do sol
06h13 Pôr do sol
Ter 32° 19°
Qua 29° 19°
Qui 30° 16°
Sex 30° 17°
Sáb 31° 17°
Atualizado às 16h10
Publicidade
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,33 +0,66%
Euro
R$ 6,18 +0,33%
Peso Argentino
R$ 0,00 +2,86%
Bitcoin
R$ 516,165,41 -3,42%
Ibovespa
156,914,48 pts -0.52%
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Anúncio
Lenium - Criar site de notícias