Essa frase é de Rui Barbosa em sua obra “A Imprensa e o Dever da Verdade” (Editora Hunter Books, 2016).
Rui lembra o meio de que se valem os governos arbitrários, como ocorreu na Alemanha, à época de Bismark, em que houve o requinte, em proporções desmedidas e inconcebíveis, do emprego da imprensa para a publicidade do governo. “Bismark estabelecera a mais vasta fábrica de opinião pública até então desconhecida.
Sem imprensa livre, a vista se enevoa e mal se vê; é a razão da censura em regimes ditatoriais.
O jornal Estado de S. Paulo, cumprindo o seu dever de investigar e bem informar, publicou matérias bombásticas sobre “A Dama do Tráfico”. Revelou que Luciane Barbosa Farias, mais conhecida como “A Dama do Tráfico”, é casada com Clemilson do Santos Farias, o “Tio Patinhas”, um dos líderes do CV (Comando Vermelho), o “número um” na lista dos procurados do Amazonas. Apesar desse currículo, ela foi recebida no Ministério da Justiça por Rafael Velasco Brandani, assessor do ministro Flávio Dino.
O ministro disse que não tomou conhecimento dessa audiência, e é possível que não soubesse mesmo. Entretanto, cabia àquele Ministério, como qualquer outro, fazer a checagem prévia das pessoas que vão participar de um encontro, providência que agora passou a ser adotada. Se isso tivesse sido feito antes, logo veriam o nome da “Dama do Tráfico” na lista negra da polícia.
Dias depois o jornal revelou que a responsável por introduzir a “Dama do Tráfico” no Ministério da Justiça é a advogada Janira Rocha, natural de Nova Iguaçu, que recebeu dinheiro do Comando Vermelho, em três oportunidades, cujo recibo foi apreendido pela Polícia Civil do Amazonas. Mais uma demonstração de falta de filtro no Ministério da Justiça.
Um governo decente não joga sujeira para debaixo do tapete, mas reconhece a falha e negligência na identificação das pessoas, e que fato da mesma natureza não voltará a ocorrer. Essa foi a atitude honrosa de Rafael Velasco Brandani, que assumiu a responsabilidade pela concessão da audiência.
Até aí tudo estava explicado. Porém, contrariando a decência e o bom-senso, passou a ocorrer uma orquestração de ataques contra o Estadão e sua editora-executiva, Andreza Matais, cuja maestrina responde pelo nome de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, uma nulidade como política e como pessoa. A sua vida está toda pautada por ódio, animosidade, e nada de construtivo. É com essa frivolidade que sempre a considerei, mas jamais poderia imaginar que ela pudesse descer a níveis tão baixos como a defesa de pessoas de péssimas índoles, ligadas a uma das organizações criminosas mais perigosas de que se tem notícia.
Qual o preço dessa defesa?
Esse mesmo método sórdido foi usado por Bolsonaro durante o seu lamentável governo com ataques à imprensa e ameaças a jornalistas. Então Lula, em contraponto durante a sua campanha, prometeu o contrário; dizia que não pode haver democracia sem imprensa livre. Se isso era apenas mais uma lorota, não se sabe, mas o método usado pela presidente do PT e sua súcia não diverge do empregado no governo anterior.
“Esperava-se que a prática de destruir reputações em vez de debater os argumentos tivesse sido interrompida depois da última eleição. Infelizmente, isso não ocorreu. A melhor maneira de lidar com as divergências é com mais liberdade de imprensa, não menos. Preocupa a perseguição de pessoas em vez do debate sobre as ideias e os fatos”, disse o economista Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper e ex-Secretário de Política Econômica do primeiro governo Lula.
Se falta argumento às pessoas para um debate sadio, a canalhice e os ataques mesquinhos são os únicos recursos que conhecem e aplicam.
O jornal Estado de S. Paulo, fundado em 1875, não se intimidou por baionetas e canhões em ditaduras, a começar pela de Floriano Peixoto; logo, não serão estampidos que irão calar a sua voz.
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“Imprensa se combate com imprensa” (D. Pedro II).
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