
A COP 30 reúne em Belém (PA) chefes de Estado, cientistas, empresários, representantes da ONU e da sociedade civil de cerca de 170 países. Ali, esses líderes estrangeiros poderão conhecer de perto os exuberantes rios e a Floresta Amazônica.
Desde a primeira COP, realizada de Berlim (1995), ocorreram outras 29, com poucos resultados práticos.
Quando se realizou a COP 26, em Glasgow (Escócia), afirmava-se que seria mais uma tentativa de reparar os estragos que o homem causou à Natureza. Naquela oportunidade, Alok Sharma, que presidiu a conferência, fez uma advertência impactante. Disse ele:
“Essa conferência representa a última chance para a humanidade cumprir as metas climáticas e limitar o aquecimento global.”
Foi um tiro no vazio.
Depois vieram outras, e pouco ou nada aconteceu.
Não gostaria de ser pessimista, mas acredito que a COP 30, como as anteriores, produzirá pouco ou nenhum resultado prático – e já começou fracassada pelo discurso incoerente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou, de forma enfática, que “precisamos superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”. Mas como superar essa dependência se o próprio presidente defendeu a liberação pelo Ibama da exploração de petróleo na foz do Amazonas pela Petrobras? Além disso, caso ocorra ali vazamento de petróleo, os danos ambientais serão irreversíveis.
Em vez de me deter nas COPs, prefiro destacar iniciativas privadas. Esse foi o caso do renomado fotógrafo e ambientalista mineiro Sebastião Salgado, falecido em 23 de maio deste ano. Com a colaboração de Lélia, sua esposa, ele promoveu o plantio de mais de dois milhões de árvores numa região do cerrado mineiro. A área estava estéril, devastada pelo desmatamento e pelas queimadas, o que resultou no desaparecimento da fauna local e na transformação da região em um espaço inóspito.
A execução do projeto teve início em 1998, quando o casal criou o Instituto Terra, dedicado ao desenvolvimento sustentável e à recuperação dos ambientes naturais. O projeto, cuidadosamente elaborado, começou com a criação de um viveiro de mudas, seguido pelo reflorestamento, que já completou 20 anos. Hoje, a floresta abriga mais de 150 espécies de pássaros, quase 300 espécies de plantas, 33 espécies de mamíferos e 15 espécies de répteis e anfíbios, além da revitalização de nascentes, fundamentais para o equilíbrio natural do ecossistema.
O projeto não se limita à recuperação ambiental. Sebastião Salgado também conferiu a ele uma dimensão espiritual. Reuniu-se com líderes religiosos para discutir os rumos do reflorestamento, afirmando que “é importante, para o sucesso do trabalho, uma conexão entre a espiritualidade e a terra” – anotou André Nogueira.
Sebastião Salgado sempre demonstrou profunda sensibilidade social: suas fotografias denunciavam a desigualdade, exaltavam a dignidade dos pobres e retratavam o valor da vida humana. Por trás de tudo isso, pulsava sua espiritualidade.
Essa mesma óptica de conexão entre a terra e a espiritualidade tinham também os gregos. A Terra – para eles – era concebida como uma divindade (Geia) da qual descenderam outros elementos divinos. Assim, o poema Teogonia de Hesíodo narra a origem e genealogia dos deuses gregos, explicando a criação do universo a partir do caos (vazio primordial), seguindo-se a sucessão de gerações divinas – Geia (Terra), Eros (Amor), Céu (Urano) e outros.
Embora em menor escala, muitos proprietários rurais já compreenderam os danos das áreas degradadas e vêm promovendo reflorestamentos e recuperação de nascentes.
Sem a mão do Estado, tudo tende a dar certo.
A natureza não responde a discursos; responde a gestos. Enquanto as nações se reúnem em conferências repletas de promessas que se dissolvem no ar, a terra espera silenciosa pelas mãos que a curem – como as de Sebastião Salgado.
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